5 Set 2014 a 7 Set 2014

A Buraka é dona do terreno – e da Festa. O terceiro dia do Avante 2014.

A Buraka é dona do terreno - e da Festa. O terceiro dia do Avante 2014.

Depois de um segundo dia que terminou com imensa chuva e um concerto de The Legendary Tigerman que a equipa #horariosfestivais acabou por perder, chegamos ao último dia da Festa. Quando se diz que “não há festa como esta”  estamos mesmo a afirmar uma verdade de índole (quase) universal. A Festa não é um festival mas também não é só uma festa para camaradas (e amigos) do PCP (Partido Comunista Português). É inegável que há uma onda vermelha que invade a Quinta da Atalaia – sobretudo neste dia, que contém no programa um momento de comício, durante o qual a Festa entra em modo “pause”, para que todos possam usufruir de outras cantigas: as políticas.

Algazarra é um nome que assenta, que nem uma luva, aos Kumpania, que nos chegam da mística vila de Sintra. É difícil definir o seu estilo de música, mas se o tivesse que fazer diria apenas “festa, da boa”.

Às 15h, Mind da Gap subiram ao palco 25 de Abril levando na “manga” um convidado especial: Sam the Kid. Entre perguntas “o que sentes? borboletas” e o repto “bazamos ou ficamos”, a banda foi capaz de animar o recinto que ia enchendo a olhos vistos. Eram muitos os camaradas e amigos que assumiam o “és onde queres estar” e se iam apresentando no recinto munidos da sua bandeira do partido e outros elementos que faziam prever o (habitual) mar vermelho na Quinta da Atalaia.

Uma hora mais tarde, os Ciganos d’Ouro brindaram o público com a sua música, cujo estilo se revela marcado pelo flamenco, o cante hondo, bem como o jazz ou o fado. A dada altura, o fado outrora protagonizado por Amália ou, mais recentemente, Mariza, foi entoado com gosto e prazer pela banda que se encontra a comemorar os seus vinte anos de carreira.

Paulo de Carvalho é um daqueles artistas que dispensa apresentações. “Há dez anos que não vinha aqui”, confessou o cantor ao microfone do palco 25 de Abril. A sua actuação contemplou  novas roupagens de temas de outros tempos – de flores sem tempo, verdadeiramente intemporais, que marca(ra)m a música portuguesa e a história deste país. A dada altura, Agir subiu ao palco para dar lugar a um momento de verdadeira felicidade, a olhar para o rosto do autor da música do conhecido hino do PSD (Partido Social Democrata) – e não, isto não é uma piada aqui da nossa redacção!

Após o comício, os catalães La Troba Kung-Fú assumiram o comando da Festa, tendo proporcionado um verdadeiro aquecimento para aquele que, quanto a nós, se revelou no momento da Festa – a presença de Branko, Riot, Kalaf, Conductor e Blaya aka Buraka Som Sistema. Pouco passava das 20h30m quando os “cinco indivíduos criativos numa viagem pessoal através da música” (para usar as palavras de Branko), prometiam animar o início da noite na Quinta da Atalaia. Conhecidos pela sua energia inesgotável em palco e a capacidade de proporcionar concertos inesquecíveis, os Buraka não desiludiram: houve dança e, sobretudo, entrega a um público que soube corresponder à batida.

No discurso de abertura da Festa, o secretário geral do PCP anunciou o projecto de alargamento em um terço do espaço da Quinta da Atalaia, com a aquisição do terreno da Quinta do Cabo da Marinha. Tendo em conta as repetidas afirmações dos vocalistas dos Buraka Som Sistema, que passamos a citar: a Buraka é dona do terreno, a Buraka é dona do terreno! sai, sai sai, deduzimos que tal aquisição será realizada à banda. À saída da Festa, a equipa #horariosfestivais interpelou Kalaf sobre esta questão, tendo obtido como resposta o sinal universal de fixe.

Pronto. Agora a sério. A Festa foi – como se diz na minha aldeia – bonita. Primou pela energia contagiante, pelo vermelho das bandeiras, pelas famílias inteiras que se deslocaram à Quinta da Atalaia em férias, pelos amigos que (re)encontramos, pela variedade gastronómica que não se encontra em lado algum e – acima de tudo – pelos momentos carvalhesa, perante os quais somos todos camaradas e amigos – seja pela ideologia política, pela vontade de viver a Festa ou simplesmente pela selecção do cartaz.

Vemo-nos no próximo Setembro. Até lá, Avante.

Joana Rita  

Joana Rita é filósofa, criadora de conteúdos, formadora e investigadora. Ah! E uma besta muito sensível.


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6 Comentários

  1. Luís Lopes diz:

    As suas reportagens, embora incidindo apenas (ou quase apenas) sobre o aspeto musical da festa do Avante!, são ainda assim muito mais elucidativas e noticiosas do que os grande media: basta ver o que DN, JN, Publico, etc, publicaram sobre ela neste dias. E as TV’s, então… Parabéns pelo estilo conciso. E no próximo ano, leve um poncho de emergência: em caso de chuva, não perderá os concertos!

    • Olá Luís!
      Obrigada pelo comentário e pelo elogio.
      O nosso foco na Festa foi sobretudo musical… ainda que o evento não seja um Festival de música, na sua essência, acaba por marcar de forma única o verão dos festivaleiros que não dispensam um fim de semana na Quinta da Atalaia.

      Para o ano há mais!

  2. Cris Morais diz:

    Bom texto Joana! Apenas um pequeno reparo: a Buraka é dona do terreiro (de umbanda)… essa é a letra correta da canção.
    Até para o ano!

  3. Lourenço diz:

    Um excelente texto realmente bem melhor e imparcial que o de muitos ditos de referência.Não sendo comunista gosto muito de ir a esta festa, sem preconceitos. Estive no espectáculo dos Buraca por curiosidade,como quem vai ver as 2 primeiras e depois vai ver outra coisa. Fiquei até ao fim e foi simplesmente fantástico apesar de não ser grande adepto deste tipo de musica.
    Obrigado.

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