9 Jul 2015 a 11 Jul 2015

O último dia do NOS Alive deixou-nos Dead

O último dia do NOS Alive deixou-nos Dead

Terminou a 9ª edição do festival NOS Alive. Ao longo de três dias passaram pelo Passeio Marítimo de Algés cerca de 155 mil visitantes, dezenas de artistas e 130 atuações distribuídas por seis palcos. O NOS Alive passou a ser ponto obrigatório não só para amantes da música, mas também da arte e da cultura. É um festival feito para novos e graúdos, solteiros e famílias. As pessoas passeiam, apanham sol, ganham os melhores brindes, procuram os colegas, reencontram os amigos e ouvem os mais variados estilos de música.

Palco Heineken

Os Dead Combo conseguiram encher completamente o palco Heineken. E apesar de merecerem pisar um palco maior é assim, naquele clima mais perto do público que a dupla portuguesa formada por Tó Trips e Pedro Gonçalves vai gosta de estar. O duo trouxe na manga temas do mais recente registo de estúdio, A Bunch of Meninos. A dupla de sucesso, conhecida por misturar fado com tango e cruzar o swing do rock com o jazz, aproveitando ainda influências das bandas sonoras dos Westerns, conta com mais de 10 anos de carreira e com a certeza de ser uma das bandas mais populares da atualidade em Portugal. Os últimos anos já lhes valeram momentos como a participação na apresentação do filme “Cosmopolis”, de David Cronenberg, em Cannes, assim como a participação no programa “No Reservations”, do conhecido chef Anthony Bourdain. De referir que, logo após a passagem do episódio, três dos seus discos entraram para o top dez dos discos de músicas do mundo mais vendidos no iTunes norte-americano. Para os Dead Combo o ano de 2014 acaba da melhor forma com a realização de um concerto esgotado no Coliseu de Lisboa (podem ler a nossa reportagem aqui) com a novidade de em 2015 verem dois dos seus temas incluídos na banda sonora do filme “Focus”.

A celebrar 20 anos de carreira, os Mogwai voltaram a Portugal para atuar ontem no Palco Heineken, depois das passagens, em anos anteriores, pelo Paredes de Coura (2011) e pelo NOS Primavera Sound (2014), no Porto. O grupo escocês oriundo de Glasgow toca post-rock e apresentou, agora em Algés, o seu oitavo e mais recente trabalho de estúdio, Rave Tapes. O novo registo de originais do quinteto foi produzido por Paul Savage, com quem a banda já editou igualmente Young Team, álbum de estreia da banda, e Hardcore Will Never Die, But You Will.

Jesus Cristo desceu à terra e presenteou-nos com um concerto de The Jesus and The Mary Chain, que por sua vez apresentaram-nos em exclusivo o legendário álbum Psychocandy, que colocou a banda na história do rock dos anos 80, com um dos discos mais influentes da música pop. A dupla de irmãos Reid tocaram temas de sucesso como «Jesus Like Honey», «Never Understand» ou «You Trip me Up». São poucas as bandas que atingiram um efeito tão grande na cultura musical como os The Jesus And Mary Chain. A atitude irreverente do grupo, o look negro, a raiva contra o mundo, as atuações em palco que se assemelham a um caos perfeito e culminam em doces melodias hipnotizantes, centradas em líricas sombrias, conquistaram rapidamente a crítica, o público e toda a indústria. A dupla escocesa encontra-se em estúdio a preparar o álbum sucessor do sexto longa duração, Munki.

Azealia Banks subiu ao palco Heineken e agitou o público. A rapper, cantora e compositora, natural do Harlem, Nova-Iorque, apresentou o seu disco de estreia, Broke With Expensive Taste, editado no passado mês de novembro. Após algum tempo de espera, Azealia Banks surpreendeu os fãs com o lançamento sem aviso prévio do seu primeiro longa-duração. O primeiro registo de originais da artista conta com sucessos como «212», «Chasing Time», «Heavy Metal and Reflective» e “Nude Beach A-Go-Go”, que conta com a parceria de Ariel Pink.

Os canadianos Chromeo foram o último grupo a atuar no Palco Heineken, que estava impossível de ser frequentado. O duo electrofunk, formado por Patrick Gemayel (P-Thugg) e David Macklovitch (Dave) apresentaram pela primeira vez em Portugal o trabalho de estúdio mais recente, White Women. Trata-se do quarto disco de longa duração da dupla, sucessor de ‘Business Casual’, editado em 2010, e conta com a contribuição de várias vozes conhecidas como Ezra Koenig (Vampire Weekend), Pat Mahoney (LCD Soundsystem), Toro Y Moi, Solange Knowles, entre outros. O concerto foi tão bom que era impossível entrar na área do recinto, mas milhares de festivaleiros fizeram a festa cá fora, entre conversas, danças e copos de cerveja.

Palco NOS

A primeira atuação no palco principal esteve a cargo de um dos maiores fenómenos da Soul e Rn´B nacional, os HMB – autores de «Dia D» e «Não Me Deixes Partir». Cheia de estilo e descontraída, a banda portuguesa trouxe grandes vibes numa tarde bastante ventosa. «Como é que é Alive? Tá-se bem Alive?», perguntavam incansavelmente. Os HMB são o quinteto Héber Marques na voz, Joel Silva na bateria, Daniel Lima nos teclados, Fred Martinho na guitarra e Joel Xavier no baixo. Os grandes nomes dos anos 60 e 70, como Al Green e Bill Withers e os mais recentes D’Angelo e ErykahBadu são algumas das referências que inspiram a sonoridade da banda. Agora, os HMB estão de regresso com Sente, um disco mais dançável e cheio de boas canções, do qual fazem parte os temas «Talvez» e «Feeling». E como já dizia o ditado, «quem não sente, não é filho de boa gente». Neste álbum os HMB encontram-se mais maduros e mais ligados às tendências dançáveis da Soul, HipHop e RnB. Depois de «Talvez», foi a vez de dar lugar ao sucesso nas pistas de dança com o tema «Feeling», em colaboração com Da Chick, um hino à dança, que é como quem diz «quem dança seus males espanta» e «quem dança nunca arrefece», tornando-se esta a mensagem do novo disco. «Lado Certo do Peito» e «Tua Maneira» não são músicas para uma só audição, e «Dillaema» tem um feeling à Stevie Wonder, um cheirinho de bossa nova e gosto a jazz. Sente trata-se de um álbum sólido e maduro, que nos deixam com vontade de o voltar a ouvir sempre que chegamos ao fim. E foi essa mesma sensação com que os HMB nos deixaram mesmo antes de terminarem: nós não queríamos chegar ao fim.

Os norte-americanos Counting Crows apresentaram ontem à tarde no Festival o seu mais recente longa-duração, Somewhere Under Wonderland, editado no final do ano passado. O grupo, conhecido pelas suas atuações enérgicas e criativas subiu ao palco para a segunda atuação no palco principal. O vocalista Adam Duritz, de óculos, está mais encorporado, com uma cabeleira de rastas ainda maior, tão preta que parece uma peruca. Sempre a cantar de pastilha elástica e com uma t-shirt preta dos New York Dolls, Duritz foi a face pacata de uma banda numerosa (sete músicos em palco) já de ar veterano, com uma panóplia instrumental interessante, que inclui pianos, acordeão e até o bandolim. A banda oriunda de Berkeley, Califórnia, tornou-se um sucesso com o álbum de estreia August and Everything After, editado em 1993, onde constava o tema de sucesso «Mr. Jones». Constantemente eleitos como um dos melhores grupos ao vivo da atualidade, os Counting Crows trouxeram até ao Passeio Marítimo de Algés o sétimo registo de estúdio, bem como os principais hits do seu catálogo. Apesar das comparações repetidas com os R.E.M., a referência que veio mais à memória ontem à tarde foi Bruce Springsteen, e começou logo pelo referido tema «Round Here», onde está muita da sensibilidade descritiva do Boss.

Depois de vencer vários prémios, e a pedido de milhares de fãs, Sam Smith foi talvez o maior furor de todas as miúdas do Festival. Calma miúdas! Aguentem esses gritinhos histéricos que ele não joga no vosso campeonato. «Oh my god» dizia ele, e digo eu. O artista britânico passou ontem à noite pelo Passeio Marítimo de Algés e confirmar o porquê de ser considerado um dos mais aclamados artistas da atualidade, com um concerto que prometia ser inesquecível. E foi. Há muito tempo que não ia a uma festa de karaoke tão boa. O disco de estreia do músico, In The Lonely Hour, editado em maio de 2014 tem sido um sucesso, mas o artista passou grande parte do concerto a cantar covers de outros músicos.

Depois de dois concertos completamente esgotados no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, o artista Chet Faker atuou nos NOS Alive em substituição de Stromae, que por motivos de saúde foi forçado a cancelar a sua digressão. O projeto do cantor Nicholas Murphy subiu ontem ao Palco NOS para um concerto hipnotizante. O álbum de estreia, Built on Glass, editado o ano passado, conquistou vertiginosamente o público e a crítica. Uma certeza é que ao vivo Chet Faker é incontornável, graças à sua poderosa voz ritmada pelas sensuais composições eletrónicas, que destacam o ritmo único dos seus temas. Com um disco de originais e um EP editados, o australiano já soma vários prémios e um grande leque de fãs, não estivesse o recinto completamente cheio.

A noite no palco principal terminou com o regresso dos ingleses Disclosure. Reis incontestáveis das pistas de dança em todo mundo desde 2013, os Disclosure foram a dupla mais aguardada da noite e trouxeram consigo o álbum Settle. Considerados o maior sucesso da dance music desta geração, os Disclosure conseguiram não só chegar aos primeiros lugares dos TOPs, bem como esgotar as maiores salas pelo mundo fora. «Latch», com Sam Smith, «White Noise», «F for You» com Mary J. Blige, ou «You and Me» são alguns dos temas que se tornaram incontornáveis em todas rádios e clubs e não faltaram à atuação de ontem à noite no Palco NOS. Os Disclosure trouxeram ao NOS Alive não só músicas do álbum Settle, como um espetáculo especial com uma produção cénica que não deixou ninguém indiferente.

RAW Coreto

Raury, cantor e compositor norte-americano conhecido pelo seu estilo eclético que junta o funk, soul, hip-hop e folk, subiu ontem ao Raw Coreto. O músico revelação, que se encontra na lista dos 15 finalistas para o BBC Music Sound 2015, estreou-se em Portugal no NOS Alive’15, onde apresentou a sua primeira mixtape de originais, “Indigo Child”. Este ano o músico fez parte do projeto Raw for The Oceans, uma iniciativa da marca holandesa, que tem como objetivo recolher plástico dos oceanos e transformá-lo em denims.

No mesmo dia passaram pelo mesmo palco John Ascia, os portugueses Pista, que se estrearam igualmente no festival, Cave Story, Tracy Vandal e Pedro Ramos, voz de sucesso da Rádio Radar e programador das noites Black Balloon, com um DJ set que fez a festa no Raw Coreto.

Terminou mais uma edição de um dos melhores festivais da Europa, o NOS Alive e nós já estamos com saudades.

Mafalda Saraiva  

Eu sei lá resumir-me numa frase. Mas escrevo muitas no meu blog.


Ainda não és nosso fã no Facebook?


Mais sobre: Azealia Banks, Chet Faker, Counting Crows, Dead Combo, Disclosure, HMB, Sam Smith, The Jesus and Mary Chain


  • Partilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *